segunda-feira, 30 de junho de 2008

Espaço para edificação

Trago abaixo o trecho de um livro que é ao mesmo tempo uma autobiografia, tratado teológico, oração:

Confissões de Agostinho

Aurélio Agostinho, mais conhecido por Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho, foi bispo durante o século IV na cidade de Hipona (Hoje Annaba), Argélia, norte da África. Agostinho é considerado um dos maiores filósofos cristãos e um dos pais da Igreja Cristã.

O pequeno trecho, que segue abaixo, do primeiro livro das suas confissões, trás parte de uma belíssima oração de um homem se derramando perante o Pai Celeste.

Quem parar e refletir no texto certamente terá grande proveito.


Deus é inefável

O que és, portanto, meu Deus? O que és, pergunto eu, senão o Senhor meu Deus? "Quem é, pois, senhor, senão o Senhor? ou quem é deus, senão o nosso Deus"?(1) Ó altíssimo, infinitamente bom, poderosíssimo, antes todo-poderoso, misericordiosíssimo, justíssimo, ocultíssimo, presentíssimo, belíssimo e fortíssimo, estável e incompreensível, imutável que tudo muda, nunca novo(2) e nunca antigo, tudo inovando,(3) conduzindo à decrepitude os soberbos, sem que disto se apercebam,(4) sempre em ação e sempre em repouso, recolhendo e de nada necessitando; carregando, preenchendo e protegendo; criando, nutrindo e concluindo; buscando, ainda que nada te falte. Amas, e não te apaixonas; tu és cioso,(5) porém tranqüilo; tu te arrependes(6) sem sofrer; entras em ira,(7) mas és calmo; mudas as coisas sem mudar o teu plano; recuperas o que encontras sem nunca teres perdido; nunca estás pobre, mas te alegras com os lucros; não és avaro e exiges os juros;(8) nós te damos em excesso,(9) para que sejas nosso devedor. Mas, quem possui alguma coisa que não seja tua?(10) Pagas as dívidas, sempre sem que devas a ninguém, e perdoas o que te é devido, sem nada perderes.

Mas, que estamos dizendo, meu Deus, vida da minha vida, minha divina delícia? Que consegue dizer alguém quando fala de ti? Mas ai dos que não querem falar de ti, pois são mudos que falam.


(
AGOSTINHO. Confissões (Clássicos de bolso). São Paulo: Paulus, 2002.)

_________________________


1 Sl 18(17), 32.
2 É novo quem adquire algo que antes não possuía; portanto, quem é perfectível.
3 Cf. Sb 7,27; Ap 21,5.
4 Jó 9,5; Adnot. in Job 9.
5 Cf. Gl 2,18; Zc 1,14; 8,2.
6 Cf. Gn 6, 6s.
7 Ex 4,14.
8 Cf. Mt 25, 27.
9 Lc 10, 35.
10 Cf. Tract. in Joann. 5, 1.

Nenhum comentário: